Mais uma com interpretações artísticas da Constituição

Parece que pegou esta coisa de qualquer um tecer interpretações sobre a Constituição, qual obra de arte para a qual cada um olha com os seus próprios olhos e gosta ou não aprecia. Que a educação e a saúde “são direitos que a constituição garante sob reserva do possível” é o que diz esta senhora. E acrescenta, como que a dizer que os fins justificam os meios, “Temos de ser capazes de fazer o caminho que tivermos de fazer, nunca esquecendo que há pessoas que têm sempre de ser apoiadas. Isto é verdade na educação, na saúde, nas pensões e nos apoios sociais”.

A lógica da caridade a governar o nosso país.

A propósito de declarações como estas, dou por mim, novamente, a pensar na lógica que os governos adoptam para servir as populações. (Servir, sim; e não servir-se delas.) Estou num país, a Suécia, onde as pré-escolas têm um/a monitor/a para cada quatro ou cinco crianças; onde todas as crianças têm direito a ter aulas na sua língua materna; onde a educação é completamente gratuita, desde o ensino básico até à universidade e onde a taxa máxima que se paga numa pré-escola é pouco mais de 100€ (quando o salário médio ronda os 2000€). É lucrativo? Certamente não será. Mas é o lucro que deve guiar as escolhas de um país? Devemos pensar com o “rentável” à frente de tudo o resto? E, no entanto, há emprego, todos têm acesso à educação e à saúde, a balança comercial é positiva, há dinheiro para a cultura e para as obras públicas…

São questões bem básicas, reconheço. Mas há alturas em que o discurso dominante é tão cheio de vícios e repetições, em que já caminhámos tanto no sentido inverso, que, infelizmente, é preciso voltar a pensar no básico. Ou, pelo menos, a sublinhá-lo.

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